Portugal e Espanha têm vivido, na última década, um grande impulso do mercado imobiliário e um significativo volume de investimento em todos os segmentos, que tem alimentado a economia ibérica. E 2020 vai manter-se na mesma linha, segundo antecipam altas vozes do setor a nível internacional. "Os dois países vão continuar a ser atrativos para os investidores em várias frentes", defende Ignacio Martínez-Avial, General Manager do BNP Paribas Real Estate Spain. E, de forma mais taxativa, o CEO da EPRA (European Public Real Estate Association), Dominique Moerenhout, declara que a Penísula Ibérica "tem os investidores à espera para continuar a apostar e a crescer".
Numa perspetiva de negócio, os dois países são vistos, cada vez mais, de forma alinhada. “O mercado ibérico é uma perceção de qualquer investimento. Praticamente não há nenhuma distinção entre Espanha e Portugal. Para nós, é um mercado único, embora haja pequenas diferenças regulatórias ”, explica Ismael Clemente, CEO da gigante imobiliária Merlin Properties.
Mas afinal o que é que, num contexto global de forte competividade, torna tão especiais estes dois países - e em particular Madrid, Barcelona, Lisboa (e mais recentemente também o Porto) - aos olhos dos grandes investidores internacionais? Existem várias razões que explicam por que o capital estrangeiro está a entrar, tanto em Portugal como em Espanha, em busca de novas oportunidades de negócios.
Dos dois lados da fronteira, ambos têm sabido, por exemplo, tirar partido da recuperação económica e da boa reputação em termos de segurança para seduzir e assim entrar na lista dos mercados imobiliários mais interessantes do bloco de países desenvolvidos - isto num contexto de fraco crescimento da economia global, estabilização da economia americana, crescente vulnerabilidade da chinesa e melhorias das europeias.
A nível macro, o PIB de ambos os países está a crescer acima da média europeia e voltará a repetir a proeza em 2020. No caso de Portugal, o mercado estima um aumento entre 1,7% e 1,8%. e as últimas previsões do governo espanhol colocam o crescimento do PIB de "nuestros hermanos" em 1,6% para este ano, em linha com os especialistas. Por outro lado, a média europeia crescerá em torno de 1%. E não podemos esquecer que, se a economia cresce, o mesmo acontece com as vendas e os lucros das empresas, o poder de compra das famílias, etc.
Além do fator de crescimento, Portugal e Espana formam um dos mercados turísticos mais poderosos do mundo: só em 2019 receberam mais de 106 milhões de viajantes. Portugal registou 22,8 milhões, com aumento de 7,5% face a 2018, enquanto que do outro lado da fronteira registaram um número próximo de 84 milhões, com uma subida interanual de 1,1%.
Destacam-se também a localização geográfica (conexão direta com a América Latina e Europa) e as infraestruturas estratégicas (portos, estradas de qualidade ...) E este é um fator relevante, porque aumenta as oportunidades de investimento em setores como a hotelaria ou comércio.
Por outro lado, as políticas monetárias do Banco Central Europeu (BCE), de promoção de continuadas baixas taxas de juro, "vão continuar a ser benéficas para o imobiliário ibérico", segundo acredita Ignacio de la Torre, chief economist da espanhola financial advisor Arcano.
O responsável é um dos players do mercado convencido de que os produtos imobiliários em Portugal e Espanha - sobretudo no segmento residencial - vão continuar a ser atrativos para os investidores, destacando-se por ser mais competitivos que outros produtos de investimento - ainda que, na sua opinião, sejam necessárias novas formas de financiamento. "Quanto os bancos param de financiar o imobiliário, temos de ter outras ideias, soluções híbridas, que incluam o mercado de capitais", aponta.
Entrando no setor imobiliário, propriamente dito, a competitividade é um dos argumentos fortes apontadas pelos especialistas, muito em parte devido aos custos laborais e imobiliários, que são mais baixos em cidades como Madrid, Barcelona ou Lisboa e Porto do que em outras cidades europeias como Londres, Paris, Berlim, Roma, Estocolmo ou Amsterdão. E complementarmente, pesam a favor dos dois países os altos níveis de educação, aliados a um nível tecnológico avançado e boa qualidade de vida. "Precisamos ter uma gestão melhor, mas a capacidade de gerar talentos significa que temos um alto nível de procura", indica Ignacio Martínez-Avial, General Manager do BNP Paribas Real Estate Spain.
Por outro lado, o imobiliário continua a somar pontos, porque as rentabilidades também acompanham. Em Barcelona, as receitas do mercado de escritórios cresceram 50% nos últimos cinco anos, enquanto em Lisboa recuperaram 37% nos últimos quatro anos e em Madrid as rendas 'prime' continuam bem abaixo do pico da bolha. Apesar desses aumentos, enfatiza o BNP, essas cidades estão a viver níveis recordes de absorção. Com mais de 600.000 metros quadrados (m2), a capital espanhola está no auge de 2007, enquanto a capital portuguesa bateu recorde com quase 19.000 m2 e a capital catalã fez o mesmo com 400.000 m2.
Também não podemos esquecer que Portugal e Espanha têm das maiores esperanças e qualidade de vida do mundo e que beneficiam da chegada de muitos estudantes e reformados estrangeiros, clientes potenciais de lares de idosos, residências universitárias e outros segmentos alternativos, como 'coliving' e 'coworking', ativos cada vez mais procurados pelos investidores.
Em paralelo, as crises habitacionais, vividas dos dois lados - derivadas dos altos preços nos mercados locais de compra e venda de imóveis, a par do arrendamento - abrem caminho a fórmulas inovadoras de investimento como o 'build ro rent', que consiste em construir prédios residenciais para arrendar às classes médias dos dois países.
Tudo isto explica, segundo os especialistas, que o mercado ibérico esteja a ser um foco de atenção de diferentes tipos de capital e estratégias. "Há espaço para todos os investidores, porque cada ativo e cada região está num ponto diferente do ciclo. Temos um ano muito bom pela frente e o diferente grau de maturidade dos ativos abre o leque para diferentes investidores", argumenta Ignacio Martínez-Avial, General Manager do BNP Paribas Real Estate Spain, destacando a recente chegada massiva de investidores mais conservadores, que contrastam com os investidores de curto prazo, e mais oportunistas, que entraram no mercado durante os primeiros anos da crise.
"A qualidade dos investidores que estão a chegar é a melhor que já tivemos porque trazem valor agregado e têm estratégias de longo prazo", frisa o CEO da Merlin, Ismael Clemente, explicando que "atualmente, é este o perfil de investidor que mais valoriza o setor e o que a Europa mais precisa para enfrentar projetos para o futuro".
No entanto, e apesar de a Península continuar no foco do investimento, os especialistas reiteram um ponto crítico para o sucesso no imobiliário de aqui em diante: a necessidade de diferenciar os balanços das empresas e, sobretudo, a qualidade dos ativos.
“Já não valem apenas os fundamentos. É preciso oferecer uma oportunidade de negócio. A expressão 'localização', 'localização', 'localização' já não é a única coisa relevante. Também a diferenciação do que oferece cada ativo está a tornar-se determinante. Ou seja, não vale a pena ter apenas um imóvel bem localizado, é preciso que seja eficiente, tenha serviços adicionais", esclarece o responsável do BNP Paribas Real Estate em Espanha. E isto faz com que, "exista um grande stock de imóveis com capacidade de melhoria, aumentando a perspetiva de oferta de produto, num contexto de alta procura potencial".
Por fim, insistem na importância dos custos de contexto e das decisões políticas que gerem segurança jurídica, não incerteza, para que o setor imobiliário da Península Ibérica continue a ser interessante aos olhos de quem investe.
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